TPM - Qual a sua visão sobre design de tipos na atualidade?
FH - Bem, não é novidade que o design tipográfico tem ganhado cada vez mais visibilidade. É comum atribuirmos isso a facilidade das ferramentas digitais que dispomos hoje, mas outro aspecto importante merece nossa atenção: a inclusão do branding na pauta empresarial. Cada vez mais, todos os pontos de contato das marcas com o mercado estão sendo avaliados e otimizados, e a tipografia institucional desempenha um papel vital no processo de construção das marcas — se bem aplicado — pois é capaz de carregar conceitos desde um outdoor até uma proposta via fax.
Uma consulta aos sites de empresas de typedesign internacionais prova isso, através de um crescente número de projetos customizados, desenvolvidos com exclusividade para empresas específicas. Um colega designer me comentou que muitos amigos publicitários dele, são super fãs da revista Tupigrafia. Ou seja, mais uma evidência — e motivo de festa! — de que este tema está ganhando a atenção de todos os profissionais ligados à comunicação.
TPM - Em que momento você começou a envolver-se com tipografia?
FH - A tipografia sempre me chamou a atenção, mas é engraçado que somente percebi isso depois de me dedicar seriamente a ela. Hoje, faz sentido os meus cadernos do tempo de escola apresentarem vários tipos de letras manuscritas diferentes, e as últimas folhas — aquelas sobre as quais viajamos no tempo durante aulas sem graça — serem recheadas de rabiscos de letras.
Mas a coisa realmente começou a acontecer em 2002, quando fiz um workshop em SP com o Bruno Maag, da DaltonMaag. Naquela uma semana de curso, pelo menos para mim, foi como se um novo mundo — embora paralelo e muito próximo das minhas atividades como designer gráfico — tivesse se revelado. Foi o estopim para meu entusiasmo e dedicação séria a tipografia.
TPM - O que representou a proximidade com Bruno Maag, para a evolução do teu trabalho com as fontes?
FH - O Bruno teve, de fato, uma importância fundamental para o meu desenvolvimento com o desenho tipográfico. Nossa proximidade se deu quando fui a SP fazer o workshop e escolhi o hotel mais barato sugerido pela ADG. Incrivelmente, eram lá que estavam Bruno Maag, David Carson, John Warwicker e outros convidados para atividades durante a 6ª Bienal de Design.
Após o gentil convite da Cecília Consolo e do Luciano Cardinali — que estavam cuidando dos convidados estrangeiros — comecei a sentar-me para tomar café e pegar carona com a turma toda. Isso proporcionou uma experiência de vida incrível mesmo.
Desde lá, eu e o Bruno trocamos idéias sobre projetos, o mercado, planos, futebol e até sobre o tempo — geralmente eu reclamando que aqui está quente e ele que lá está frio.
TPM - E o projeto Foco? Como foi o trajeto percorrido por esse projeto até a sua conclusão?
FH - A fonte Foco foi evoluindo nestas trocas de e-mail com o Bruno. Quando ela já tinha se constituído numa família de quatro pesos e ganhado visibilidade através da 7ª Bienal de Design, o Bruno fez o convite para comercializá-la pela DaltonMaag. Mas para isso, muito trabalho ainda havia pela frente. Eram necessárias várias correções, inclusive de design, para que o projeto alcançasse os padrões de qualidade deles.
Nos dois anos seguintes, e depois de muitos e-mails, o design tornou-se mais uniforme, o mapa de caracteres foi expandido para cobrir mais idiomas. Kerning minucioso resultando em mais de 3.000 pares em cada fonte foi implementado. E hinting “na unha” foi desenvolvido. No total, foram outros 4 profissionais envolvidos, além de mim: Bruno Maag e Ron Carpenter (Consultoria), Veronika Burian (Design) e Vincent Connare (Tecnologia).TPM - A fonte After surgiu em que momento? Qual foi sua motivação para dar início a esse projeto?
FH - Eu havia iniciado uma fonte em 2003 — que hoje tem nome provisório de Air — que ainda pode ser visualizada no fórum do Typophile (www.typophile.com/node/722). Mesmo parecendo estar quase concluído, o design de várias letras continua desequilibrado e eu não conseguia evoluir o trabalho. Assim, iniciei do zero uma nova fonte (hoje After) e busquei alguns elementos daquele projeto sem solução, desenhando traços menos inovadores, porém mais funcionais. E fluiu perfeitamente.O resultado tem se provado satisfatório, com excelentes vendas e reconhecimento em mais de 9 países, através de 3 exposições.
Por isso, estou investindo mais nela: está em etapa final o desenvolvimento das famílias After Headline — muito próxima da After comercializada hoje — e After Text, que permitirá aplicação em corpos reduzidos, mantendo a unidade com a fonte para títulos. No total serão estas duas versões, com três pesos cada e respectivos itálicos, totalizando 12 fontes.TPM - Cena internacional e cena nacional? Como você vê o mercado?
FH - Graças a cena internacional é que temos alguma cena nacional. Pelo menos sob o ponto de vista comercial, é o mercado internacional que viabiliza qualquer iniciativa nacional. Mas isso é esperado, visto o gap que há no grau de evolução do nosso mercado em relação ao de países mais desenvolvidos. Afinal, citando Horcades, “Quando os portugueses cá chegaram em 1500, nós éramos simples índios andando nus e enfeitados com penas, enquanto na Europa já havia até universidades.” Mas não devemos nos lamentar, pois podemos vender nossas fontes daqui até o Japão com o mínimo esforço de contatar distribuidoras pela internet. Tem de todos os tamanhos, qualidade, preço e gosto, para todo mundo, e é bom que tenha.
TPM - Quais as suas fontes de pesquisa ou referências na hora de começar um novo projeto?
FH - Eu busco colecionar fontes com aspectos similares — basicamente pela internet — e dissecá-las nos mínimos detalhes, visando compreender cada curva e seu propósito. Em paralelo, eu preciso ter em mente claramente os objetivos da fonte. Para títulos? Texto? Que conceitos deve transmitir? E a partir daí busco na pesquisa as características que podem ser adaptadas ao meu trabalho, que fazem sentido e estão de acordo com os objetivos do novo projeto.
TPM - O lançamento da fundição ByType esta assentado em quais objetivos?
FH - O que realmente motivou o surgimento da ByType foi a necessidade de eu ter uma marca exclusiva para oferecer meus serviços de design tipográfico ao mercado, além de comercializar minhas fontes, é claro. Eu não queria ser visto como um profissional freelancer, era precisa uma marca por trás. Assim, lancei a ByType como uma divisão da Foco Design, minha empresa de gestão de marcas e design. Este vínculo entre as duas marcas tem favorecido ambas. A ByType beneficia-se tendo acesso a toda rede de contatos da Foco, o que facilita o contato com outras empresas de design, que são os prospects potenciais para os serviços de design tipográfico.
E por outro lado, a Foco beneficia-se de todo o reconhecimento, nacional e internacional, que a ByType alcançou. Mas eu confesso que, embora tendo tudo teoricamente perfeito, são pouquíssimos os projetos de design tipográfico customizados realizados. Seguindo a ênfase da ByType como negócio, estamos formatando uma pesquisa em nível nacional para tentar mapear os prospects e descobrir quem compra — se é que compra? — fontes no Brasil. Se compram, compram de onde? Se não compram, por que não? Entre outras questões.Os resultados devem sair neste primeiro trimestre e estarão disponíveis para download em nosso site (www.focodesign.art.br/bytype).TPM - Futuro. O que vem por aí?
FH - Muito trabalho. Em Maio irei ministrar um workshop de design tipográfico em Belo Horizonte. A fonte After vai ganhar duas famílias inteiras (comentado na questão 5) e uma grande pesquisa sobre o mercado será aplicada e orientará nossos esforços de marketing em 2007 (comentado na questão anterior). Além disso, a DaltonMaag sugeriu a expansão das fontes Foco para o alfabeto cirílico e a criação de itálicos, pois ela está sendo bem aceita no mercado. Não está confirmado, mas está nos planos, que é o primeiro passo.
TPM - Palavras finais.
FH - Eu quero aproveitar este espaço e parabenizar todos os brazucas que fazem design de tipos, e encorajar aqueles que estão despertando para esta atividade.Para mim, o design tipográfico é a área de especialidade onde encontramos o design em sua essência mais pura. É preto no branco. Equilíbrio e balanço entre luz e sombra. Ajustes minuciosos para harmonizar formas, muitas vezes indo contra a precisão matemática, em favor da coerência ótica.