01 julho 2006

Entrevista # 5 // Dino dos Santos

Depois de algum atraso - mea culpa - estou postando a entrevista com o typedesigner português Dino dos Santos, da DSType, concedeu gentilmente ao Tipograficamente. Dino será um dos palestrantes do Congresso da ATypI, e vai falar sobre Caligrafia Portuguesa.

TGM - O que o motivou ao mergulho no micro universo tipográfico?
DS -
Quando comecei a trabalhar, em 1994, existiam muito poucas tipografias disponíveis.
O mercado começava a ficar saturado de designers gráficos (que é a minha formação de base) e então enverdei pelo desenho de tipos de letra,
uma paixão antiga, mas nunca concretizada. Mas como não havia ninguém para ajudar e ensinar, foi um trabalho muito penoso e duro.
É difícil explicar que se desenha letras, porque as pessoas pensam que as letras são coisas que já nasceram desenhadas.


TGM - A DSType tem se caracterizado por sua flexibilidade no trabalho com as letras. Quais suas referências e motivações na hora de começar um novo projeto?
DS
-
Procuro um vasto conjunto de referências históricas, principalmento no campo da caligrafia portuguesa e italiana. Por natureza trabalho 12 horas por dia, todos os dias, e geralmente trabalho em diversos tipos em simultaneo e tenho sempre muita pressa para começar novos trabalhos que se irão tornar novos desafios. As referências são inevitáveis e tantas que não há espaço para particularizar, muito embora me tenha apaixonado pela caligrafia portuguesa dos séculos XVIII e XIX, o que se nota em diversos tipos, tais como a Andrade e a Pluma.

TGM - Qual sua metodologia de trabalho? Tecnologias digitais e analógicas se relacionam no desenvolvimento de seus projetos?
DS -
Claro! Desenho imenso até chegar a uma qualquer conclusão e só depois passo para o FontLab. Quando estou frente ao computador todas as letras já estão desenhadas na minha cabeça.

TGM - Entre os tipógrafos da atualidade e suas criações, quais os que você destacaria?
DS
-
A escola holandesa. Qualquer um. Atire uma moeda ao ar e escolha.

TGM - Como você avalia a atual cena tipográfica portuguesa? Quais as expectativas para o Congresso anual da ATypI em Lisboa?
DS
- O seu a seu dono. Em Portugal vou destacar o trabalho do Feliciano, porque deve-se, em grande parte ao Feliciano, a atenção com que olham para o trabalho tipográfico realizado no nosso país. Na ATypI vou apresentar uma comunicação sobre caligrafia portuguesa. A ATypI é o culminar desse trabalho do Feliciano e espero que consigamos congregar esforços para que mais type designers apareçam e alguns já apareceram como o Ricardo Santos, por exemplo.

TGM - Como surgiu a oportunidade de distribuir suas fontes pela TypeTrust?
DS
-
Foi um convite do Neil Summerour e do Silas Dilworth para participar neste projecto independente e deveras interessante.

TGM - Quais os benefícios que as atuais tecnologias têm trazido aos projetos tipográficos?
DS -
Trazem inúmeros benefícios e algumas dificuldades. A margem de erro diminuiu substancialmente, pois são muito os tipos desenhados actualmente, mas com o OpenType, por exemplo, temos a possibilidade de alargar o raio de acção a diversas línguas. Começamos a entender melhor o modo como diferentes países e diferentes culturas observam o trabalho que realizamos. É deveras dificil mas culturalmente enriquecedor.

TGM - A DSType desenvolveu alguns projetos comissionados. Quais as suas expectativas em relação a demandas desse tipo de trabalho?
DS -
Se é difícil explicar às pessoas que desenho letras (que as pessoas pensam que estão desenhadas por natureza) é ainda mais difícil ser pago por isso.
Os gabinetes de design são os mais atentos e é geralmente através deles que desenho esses tipos. Mas é um trabalho muito aliciante: os constrangimentos, os prazos, a funcionalidade do projecto tipográfico, são elementos essenciais no nosso trabalho de tipos comissionados.

TGM - As fontes ‘Estilo’ e ‘Esta’ receberam deferências importantes no meio tipográfico. Qual a importância desse tipo de reconhecimento para a consolidação do profissional e de seus projetos?
DS -
Nos meus projectos, honestamente é muito pouco, mas nos meus clientes é enorme. Claro que ganhamos uma outra perspectiva acerca do trabalho que desenvolvemos e é sempre muito bom saber que apreciam o que fazemos com tanto prazer. Referiu a Esta e a Estilo, mas não podemos esquecer a Andrade que ganhou o Creative Review Type Design Awards para o melhor revival. Mais do que o reconhecimento pelo meu trabalho, interessa-me o contributo que poderei dar para a divulgação da cultura tipográfica portuguesa, e nesse sentido este prémio foi muito bom porque trouxe alguma luz sobre o trabalho desse grande professor e calígrafo do século XVIII chamado Manoel de Andrade de Figueiredo.

TGM - Qual são os planos para o futuro da DSType? Palavras finais.
DS - Espero em breve lançar o meu primeiro catálogo e eu sei que o Marconi já está à espera dele faz muito tempo, e também vou começar a escrever um livro sobre história da caligrafia portuguesa. Vou ampliar a minha livraria com mais alguns tipos e possivelmente converter outros em OpenType.

Links relacionados:
DSType
TypeTrust
ATypI

Vanarchiv Type Foundry
Feliciano Type Foundry