06 abril 2006

Entrevista #5 // Dino dos Santos // DSType

Em abril o Tipograficamente entrevista o typedesigner português Dino dos Santos. Aguardem.

03 abril 2006

Entrevista #4 - Eduardo Omine

Eduardo Omine, é arquiteto formado pela USP/FAU e despontou no cenário tipográfico nacional com a família 'Literal', mais tarde re-batizada de 'Lira Sans' - que foi na verdade seu Trabalho Final de Graduação na FAU. Em 2003, faturou uma mençao honrosa no Linotype Design Contest com a 'Beret' e também teve a fonte 'Lalo' selecionada na Bienal Letras Latinas em sua primeira versão em 2004. Suas idéias e opiniões sobre tipografia e design de tipos são apresentadas aqui no Tipograficamente.

TGM - Em que momento e por quê a tipografia tornou-se parte de seus interesses profissionais?
Omine - Sempre gostei de desenhar, mas também de matemática e funcionalidade; foi isso que me levou ao curso de arquitetura e creio que isso me levou para o desenho de tipos também. Meu primeiro contato sério com tipografia foi em 1999, quando eu cursava uma disciplina de programação visual na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) sob orientação do professor Vicente Gil.

Nessa época, ele defendou sua tese de doutorado, "A Revolução dos Tipos", um livro que mistura história da tipografia com trabalhos gráficos experimentais. Esse livro me mostrou que havia coisas mais interessantes do que fontes grunge ou pixel, e me estimulou a estudar o assunto com mais profundidade.


TGM - Por que desenvolver uma família tipográfica para o Trabalho Final de Graduação de um Curso de Arquitetura?
Omine - Meu interesse pela tipografia surgiu na FAU. A multidisciplinaridade faz parte da escola; o curso de graduação da FAU oferece disciplinas das áreas de desenho industrial, comunicação visual, paisagismo, planejamento urbano, história da arte, etc.

Não houve um motivo específico pelo qual fiz meu trabalho final de graduação sobre tipografia; foi só o resultado de meus interesses pessoais-profissionais que foram desenvolvidos dentro da própria escola.


TGM - Quais são as suas fontes de pesquisa na hora de iniciar o projeto de uma nova fonte?
Omine - Tenho meus livros, espécimes tipográficos, PDFs colecionados pela internet, e anotações próprias que uso como referências visuais, mas penso que a pesquisa mais importante se dá mesmo durante o próprio processo de trabalho.

TGM - Como você vê a cena tipográfica brasileira e internacional?
Omine - No Brasil, vejo que há alguns trabalhos bem elaborados sendo produzidos. Há um interesse cada vez maior por tipos de texto, o que eu acho uma coisa muito boa.

Mas por outro lado, percebo que ainda se faz confusão com conceitos básicos; muitos ainda confundem tipografia com caligrafia e lettering, por exemplo. Parece coisa simples, mas sem ter uma distinção clara entre essas coisas, não acho possível produzir um trabalho sério de tipografia.

Em termos internacionais, tenho a impressão que há uns 4 anos atrás o panorama geral era um pouco mais interessante. Parece que hoje há muitos trabalhos parecidos entre si sendo lançados. Talvez isso seja um pouco em consequência da popularização e super-valorização do OpenType. Ainda assim, gostei muito dos ganhadores do concurso da TDC deste ano
.

TGM - Muito se discute se ainda há espaço para o desenvolvimento de novos projetos tipográficos. Qual sua opinião sobre essa questão?
Omine - Se eu não acreditasse que há espaço para tipos novos, não me dedicaria à esta atividade. :-) Há muitos trabalhos parecidos sendo lançados, mas o plagiarismo sempre fez parte da história da tipografia, mesmo antes da tipografia digital.

Quando as empresas tinham como foco o desenvolvimento do maquinário de fundição e composição, a criação de desenhos novos ficava em segundo plano; as empresas simplesmente produziam suas interpretações dos estilos tipográficos com maior demanda.

De qualquer forma, penso que o espaço que temos hoje para criar novos tipos não é menor, mas sim diferente do que era há poucos anos atrás. Seja em tipos de texto ou tipos para título, penso que as pessoas (não só designers, mas todos) estão procurando cada vez mais por tipos com mais "substância", a experimentação tipográfica-estética por si só não satisfaz mais.


TGM - Certa feita, você afirmou que seus projetos não são 'tão populares'. O quê quis dizer com isso?
Omine - Falando em termos gerais, os tipos mais populares do momento são os tipos script (caligráficos), e até o momento não produzi nenhum tipo nessa linha. Não quer dizer que eu ache que este tipo de trabalho seja ruim ou qualquer coisa, é só uma constatação. Eu pretendo lançar algo nessa linha mais popular/caligráfica, em breve. E popularidade é também muitas vezes passageira; o que é popular hoje pode não sê-lo mais amanhã.

TGM - No Linotype Design Contest 2003 você faturou uma menção honrosa com a fonte Beret. Conte um pouco sobre esse projeto.
Omine - Em 2003, eu tinha acabado de me formar, acabado de fazer o projeto de uma família tipográfica sem-serifa como trabalho de graduação. Apesar de tecnicamente resolvido (considerando que era meu primeiro tipo para texto), percebi que esse trabalho não tinha muita personalidade; era meio genérico, "sem sal".

A Beret é um projeto no qual procurei trabalhar o tema da sem-serifa humanista com mais personalidade. Há muitos tipos desse estilo no mercado, o que dificulta a criação de algo que seja "neutro" e ainda assim tenha alguma personalidade.

No desenho da Beret ainda há referências visuais evidentes (Syntax, Auto, Meta, Quadraat), mas com suas proporções ligeiramente condensadas e sua ênfase nas terminações inclinadas, acho que consegui dar à ela uma identidade própria.


TGM - O que o motivou a desenvolver um projeto de uma 'blackletter' - a fonte Gotica Lumina? Omine - Acho os tipos góticos (blackletter) interessantes por seus aspectos formais, mas as conotações históricas relacionadas com o gênero acabaram por restringir o seu uso. Hoje os tipos góticos são usados como elementos de nostalgia ou de ironia.

Ao contrário de outros estilos tipográficos, que continuaram a evoluir, o desenvolvimento da tipografia gótica praticamente parou a partir da metade do século XX.

A Gotica (Lumina) é minha contribuição no desenvolvimento do estilo, não é um "revival" com base histórica firme, nem uma caricatura (ou pelo menos assim espero). A idéia é que se possa usar a Gotica para compor textos, por isso suas formas são mais suaves e "humanistas"; é uma adaptação do gótico para torná-lo mais legível.


TGM - A família 'Lalo' foi selecionada pela última bienal 'Letras Latinas', em que fase de desenvolvimento se encontra esse projeto?
Omine - Em fase de reavaliação. Depois da Bienal Letras Latinas de 2004 trabalhei muito nesse tipo, explorando principalmente a questão dos tamanhos óticos e dos recursos tipográficos avançados (via OpenType).

Mas sinto que acabei perdendo um pouco o rumo do trabalho; foquei muito nos aspectos técnicos e ele acabou ficando muito limpo, regular. Na próxima de rodada de trabalho meu objetivo é recolocar um pouco de "tempero" no desenho.

TGM - Quais os planos para 2006?
Omine - A família Lalo deverá continuar como projeto em andamento, sem previsão de conclusão. Enquanto isso, espero até o fim do ano lançar pelo menos dois tipos display (para título): um caligráfico e outro gótico.
TGM - Palavras Finais.
Omine - Desenhar tipos envolve desenhar letras; mas desenhar letras nem sempre envolve desenhar tipos.